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quinta-feira, março 17, 2005

Clichés de Terror

Fui ontem assistir à ante-estreia do filme "The Ring 2" (sim, VIPs como eu vêem os filmes nas ante-estreias). Mas descansem, caros amigos, que não vou aqui armar-me em crítico de cinema. Deixo isso para quem é pago para o fazer... (e pensar que há gente que é paga para criticar... sortudos!).

Para aqueles que já conhecem a saga, quero só deixar aqui uma notícia que me contaram ontem. É que querem fazer uma versão portuguesa do "The Ring" (O Anel, portanto) e no papel de Samara (a miúdinha arrepiante) vai estar, nem mais, nem menos do que Simara! O pessoal achou piada à parecença dos nomes e resolveu convidá-la. O único problema que estão a ter é que não conseguem enfiar a Siamara dentro de um poço e muito menos pô-la a subi-lo!

Mas notícias à parte, em vez de me pôr aqui a falar sobre ESTE filme especificamente, decidi falar-vos um pouco sobre as questões que me inquietam neste género filmes. Há uma série de pequenos clichés e manias que se repetem em quase 99% dos filmes de terror e que fazem com que a mesma pergunta surja na minha cabeça vezes sem conta: "O que é que estes gajos andam a fumar?!"
Deixem-me mostrar-vos o que quero dizer:

1º Cliché - "O quarto escuro"

Não há um único filme de terror que não se passe, pelo menos metade do tempo, no escuro. Até aqui, tudo bem... Afinal de contas, fantasmas e monstros não têm grande impacto à luz do dia (a Paula Bobone não conta, ok?). O que me chateia nisto é que as personagens destes filmes vão SEMPRE aos locais ditos assustadores durante a NOITE. Porquê?! Eles podiam perfeitamente esperar pela manhã para ir lá, mas não... Eles insistem em ir de noite!

Protagonista: Bem, agora que estamos todos aqui a salvo e que nada de mal nos pode acontecer, temos de voltar à casa abandonada que fica no meio do Cemitério da Má Sorte, perto do Penhasco dos Espíritos...
Personagem Secundária: Mas é de noite! Já são 3 da madrugada! O que queres ir lá fazer?
Protagonista: Lembrei-me que deixei lá cair um par de meias que trazia no bolso... Temos de o recuperar!
Personagem Secundária: Mas não podemos esperar que amanheça para fazermos isso? São só umas meias!
Protagonista: Não discutas! Temos de ir lá agora! O destino da humanidade depende das minhas meias!

E como se isto não bastasse, os gajos levam as suas lanterninhas minúsculas para dar ainda mais impacto à cena. O que se verifica muitas das vezes é que eles entram nos locais/edifícios onde TODA A GENTE SABE que vai acontecer alguma coisa de assustador e mau e nunca há a porra de uma luz! Mesmo que a cena se passe num local onde há duas cenas atrás havia luz eléctrica, o herói do filme nunca se dá ao trabalho de procurar pelo interruptor e acender uma lâmpada... nunca!
A sensação que me dá é que os filmes de terror não têm lá grande orçamento e então eles têm de poupar na electricidade!

Protagonista: Pronto! Já cá estamos... Agora vamos acender as nossas mini-lanternas e procurar pelas minhas meias!
Personagem Secundária: Olha lá, e se acendessemos as luzes?
Proganista: Luzes?! Não! Isso é para mariquinhas, pá! As lanternas chegam perfeitamente!
Personagem Secundária: Mas olha... O interruptor está mesmo aqui! É só chegar aqui e carregar...
Protagonista: NÃO! Tu sabes quanto é que pagamos de luz o mês passado, sabes?! Deixa lá a porcaria do interruptor e usa a lanterninha!

2º Cliché - "Eu não tenho medo de nada!"

A imagem do herói destemido também já se tornou num hábito chato e perfeitamente irrealista neste género.
Normalmente temos um ou uma jovem que sempre teve medo aranhas, sange e filmes de zombies, mas que, a partir do momento em que se envolve no enredo, vira um ser destemido que se mete em tudo o que é sarilho com mortos, monstros e serial-killers munidos de moto-serras, muitas vezes sem saber muito bem o que está a fazer!
Depois, há sempre aquela altura no filme em que a pessoa tem a oportunidade de escolher entre fugir a sete pés da situação e fazer de conta que não é nada consigo, ou armar-se em herói e tentar salvar a humanidade... Enquanto qualquer um de nós escolheria a primeia opção, os tipos destes filmes de terror são estúpidos e vão sempre pela segunda hipótese.

3º Cliché - "A miúda gadelhuda morta de camisa de dormir branca"

Este último cliché é mais recente, mas já se está a tornar irritante. Nos últimos anos temos assistido a uma vaga de filmes de terror que envolvem miúdas com cabelo espigado e com camisas de noite brancas até aos pés a levitar no fundo de corredores e a matar pobres inocentes.
Eu confesso que me arrepio com estas miúdinhas, facto que me deixa algo preocupado.
Porque é que havemos de ter medo de um chavala de 8 anos que nunca cortou o cabelo e tem sérios problemas de atitude? A conclusão a que eu cheguei é simples, mas perturbadora:
Todos nós temos um cabeleireiro escondido dentro de nós! Durante o nosso desenvolvimento, esse lado pode revelar-se e nós, ou viramos, de facto, cabeleireiros, ou ficamos como o José Castelo Branco. Quando esse nosso lado não se revela, fica escondido e recalcado, mas poderá surgir em qualquer altura! É o que acontece quando vemos estas miúdinhas. Perante um cabelo tão feio e gadelhudo, ficamos horrorizados:

"Ai que horror!!! Que cabelo mal tratado!!! Nem consigo olhar! Ai se fosse minha filha!! Ai que horror!!!"

No mínimo, preocupante...

Agora se me dão licença, vou ali atender uma cliente que está à minha espera para fazer uma permanente...