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domingo, janeiro 09, 2005

Descida aos Infernos - Parte II

Finalmente, aqui está a segunda e última parte do relato da minha assustadora, sangrenta e alucinante ida ao dentista!

Para vos refrescar um pouco a memória, na primeira parte do relato contei-vos que, enquanto estava na sala de espera do dentista, vi um miúdo que arrancava pedaços do próprio cérebro, descobri um tarado que se divertia a olhar para mulheres nuas em revistas do século passado, o George Bush ligou-me para me pedir que tomasse o lugar dele na presidência dos EUA e duas suecas vieram ter comigo para me convidar para uma sessão de sexo louco. Infelizmente, antes que pudesse aceitar qualquer uma das propostas, a recepcionista chamou-me e tive de entrar no consultório.

Ao entrar na sala do dentista, deparei-me com aquilo que posso classificar como uma sala de tortura dos tempos modernos. Estava lá tudo, incluindo uma cadeira de tortura e vários instrumentos de sodomização.
O dentista, que a partir deste momento passarei a chamar de "Dr. Carrasco", mandou-me sentar na cadeira e, antes que eu pudesse dizer alguma coisa, enfiou-me com um aspirador na boca. Aquela porcaria agarrou-se-me a língua e eu passei os 30 segundos seguintes a tentar dizer-lhe o que se estava a passar, mas a coisa com mais nexo que consegui dizer foi:
"nnhhhaaaa... aaaaahh... nnhhhaaaanhhaaaa.... uuhhh..."
Estranhamente, acho que o Dr. Carrasco não me entendeu.
Quando finalmente consegui libertar a minha língua daquela prisão sugadora já o Dr. Carrasco estava de broca em punho pronto a ESCARAFUNCHAR a minha linda cremalheira. Eu não quero ser exagerado, mas acho que a broca dele era capaz de fazer frente àquela Black & Decker topo de gama que vi à venda no Jumbo com ponta em diamante e que perfura uma parede de aço com 3 metros de espessura em menos de 5 segundos! Enfim, o que eu quero dizer com isto tudo é que aquela m#!$% doía!!!

A certa altura, o Dr. Carrasco começou a falar comigo. Ora, como vocês sabem, aquelas brocas fazem uma barulheira jeitosa, de tal forma, que eu não conseguia ouvir nada do que ele estava para ali a dizer. Esforcei-me mais um pouco e consegui ouvi-lo dizer qualquer coisa que me pareceu:
"Dá-me um pontapé"
Fiquei um bocado surpreendido... Mas pensando bem, aquilo talvez fosse uma maneira de tentar aliviar o meu stress, por isso fiz o que ele me pediu.
O homem deu um valente salto e disse:
- Mas o que raio é que está a fazer?!?
Ao que eu respondi:
- Então o xô dótor não me disse pra lhe dar um pontapé?
No final de contas, parece que o desgraçado tinha dito: "Já estou cansado de estar de pé!".

Ele lá se recompôs e quando me apanhou distraído, deu-me uma picada. Foi nessa altura que, pela porta do consultório, entrou o Pato Donald, seguido da Cameron Diaz em bikini. Agora imaginem a minha cara de parvo quando os dois se puseram em cima da mesa a fazer sexo.
Virei-me para o Dr. Carrasco para lhe dizer o que se estava a passar e ele estava de mini-saia e com um alien em cima da cabeça!!!
Quando já estava quase a saltar dali pra fora a correr, o gajo diz-me:
- Esta anestesia que lhe dei pode causar algumas alucinações, por isso não se assuste.
Respirei de alívio e disse-lhe:
- Ah bom! Ainda bem que avisa! É que pensei que estava a ver a Cameron Diaz a fazer sexo com um desenho animado e que o xotôr estava de mini-saia e com um alien na cabeça!
Afinal, parece que a mini-saia não era alucinação. Ele tinha ido ao Norte Shopping no dia anterior, viu-a em saldos e não resistiu. Tenho de me lembrar da próxima vez que lá for de ver se ainda há mais.

Enfim, depois destas peripécias todas, o dentista lá acabou o serviço e mandou-me embora, não sem antes dizer:
- Temos aí um problema. É que nós temos bichinhos que moram na nossa boca e que não nos fazem mal. O problema é quando eles aumentam de número e se transformam em soldadinhos. Então aí atacam-nos. Precisamos de tomar um remediozinho para isso.
Ora, eu fiquei deslumbrado com a capacidade de adequação de discurso deste homem. Falou comigo e explicou-me tudo direitinho e com todo o rigor científico. Tenho a certeza de que se eu fosse um puto de 6 anos, ele já ia dizer algo menos complicado, do tipo:
- Temos aqui uma infecção multirresistente derivada da proliferação de algumas estirpes bacterianas comensais da cavidade oral. Sugiro que se inicie a antibioterapia imediatamente.

À saída, dirigi-me à recepcionista, paguei e tentei meter um bocado de conversa com ela. Olhei-a bem nos olhos, sorri e disse:
- Nhhhaaa....uuggghh.... ggaarrrgggg...nnhhaannnaa.
Ela não pareceu muito interessada, pelo que decidi que era melhor termos aquela conversa um dia mais tarde, quando eu já não estivesse sob o efeito da anestesia.

Por favor, da próxima vez que tiver de ir ao dentista, lembrem-me para fazer um seguro de vida!