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quinta-feira, janeiro 06, 2005

Descida aos Infernos - Parte I

Nunca fui daqueles que fazem um grande drama para ir ao dentista, mas o que é certo é que quase todas as visitas a um dentista são dignas de um episódio do Twilight Zone ou mesmo de um daqueles filmes de terror de Série B (dos rascas)... Foi esse o meu caso hoje.

O filme começou logo na sala de espera.
Entrei todo feliz e contente numa salinha com um ar acolhedor, alguns sofás espalhados e um espelho daqueles que todas as salas de espera têm (aliás, julgo que o decorador destas salas deve ser o mesmo há pelo menos 50 anos). Mesmo estando praticamente tudo ocupado, ainda tive a sorte de arranjar um lugarzito para me refastelar.
Até aqui, tudo normal...
Começo a olhar à minha volta para me distrair um pouco e deparo-me logo com uma cena clássica: um puto com cara de chato a escarafunchar (esta palavra é simplesmente magnífica) no nariz. O desgraçado escarfunchava tanto que tenho a certeza que, em vez de macacos, já estava a tirar pedaços de cérebro (aarrgghhh!). A mãe, por sua vez, mandava-lhe uns valentes sopapos (outra palavra linda) de quando em quando, acompanhados por um não menos clássico:
"Naum botes o dedo do nariz, Carlos Cláudio!"
O puto desatava a chorar e a mãe soltava mais uma frase típica:
"Raiparta o moço! Tá sugado!"

Para não ficar ainda mais deprimido, desvio o olhar para o lado e deparo-me com uma cena ainda pior: um tipo com um look muito clean e aprumado com uma daquelas revistas de há 10 anos atrás ( eu acho que deve haver uma lei qualquer que obriga a que todas as revistas que são colocadas nas salas de espera sejam suficientemente antigas, de forma a ainda terem o "Programa da Cornélia" e o "Zip-Zip" na página da programação).
Mas que o homem goste de ler revistas a cheirar a mofo, ainda vai... O problema foi quando me apercebi que o tipo estava LITERALMENTE a babar-se para cima de umas fotos de umas jovens semi-desnudadas que apareciam numa das páginas. Não posso jurar, mas pareceu-me ouvi-lo a emitir pequenos grunhidos de excitação enquanto se deliciava a olhar para as curvas das rapariguitas.

Quando já estava prestes a levantar-me para me sentar numa outra cadeira BEM LONGE do homem, a recepcionista chamou o meu nome.
A minha hora tinha chegado... Estava prestes a entrar na SALA DOS HORRORES...

(To be continued...)