< Calhambeque Amarelo: Elitismo

domingo, setembro 18, 2005

Elitismo

Há quem diga que este nosso país não passa de uma grande dor de cabeça e que pouco se aproveita. Há também quem diga que já não se faz nada de jeito, que vamos a caminho de uma recessão, que somos o pior país da Europa. Em suma, que isto está mesmo mal.

Eu também já o disse.

Pois bem, meus amigos, somos umas bestas.

Sim, é isso mesmo. Somos umas valentes bestas.

Na nossa ânsia de dizermos mal deste nosso país, e de culpar tudo e todos pelos nossos problemas, nem sequer perdemos tempo a analisar, avaliar ou apreciar as coisas verdadeiramente admiráveis e boas que nos rodeiam.

A revelação, caiu como um relâmpago na minha cabeça. Nós somos um país elitista, nós somos os maiores. Tenho a certeza absoluta. Senão vejam:

Se não fossemos tão bons como é que poderíamos aceitar que, um político, só por amuar quando falam mal dele, pudesse “abdicar” do seu cargo. Só nós, que temos outro político, tão bom ou melhor, prontinho para ocupar o lugar abandonado.

Outro exemplo. Somos dos poucos países em que o governo se pode dar ao luxo de colocar a taxa de IVA máxima em produtos básicos essênciais (comida e isso, coisas sem importância como essas, estão a ver?), tornando-os em autênticas iguarias dignas de um marajá. Não se sentem felizes e contentes por serem tratados como realeza?

E a gasolina? Com o mercado livre dos combustíveis, quer o preço do crude suba ou baixe, fazemos sempre questão de aumentar o preço da gasolina. É admirável.

E o défice. Por mais que a UE nos diga que temos um rombo no “Orçamento de Estado” (termo usado de forma solta) maior que o Evereste, fazemos sempre questão de o aumentar de ano para ano. O nosso ego não tem limites, isto é que é viver à grande.

Por tudo isto se conclui que em Portugal só vivem pessoas ricas; se assim não fosse, ninguém comia e ninguém usava veículos com motor de combustão interna. Cá, também só vivem pessoas inteligentes e capazes, razão pela qual facilmente substituímos qualquer pessoa que ocupe um cargo importante (é um pré-requesito ser inteligente e capaz para ocupar estes cargos em Portugal!) por outra tão ou mais capaz. Também não há desemprego, só assim se explica que alguém que amue possa deixar o seu trabalho sem correr o risco de ficar sem o seu “ganha pão”. Em Portugal quem quer um emprego tem! Quanto ao défice, isso é só para arreliar a UE.

Venham agora dizer-me que o país está mal.

Nós somos a elite!