Campanha de Arraial
A minha experiência pessoal diz-me que há, basicamente, quatro tipos de pessoas que adoram festinhas populares: os que gostam de comer bifanas, os que gostam da pinga, a malta da música pimba e... os políticos.Não há nada mais atractivo para um político em campanha do que uma bela festinha popular cheia de lorpas... perdão, potenciais eleitores!
Ainda este Domingo fui a uma dessas festas (obrigaram-me, eu juro!) e quem é que eu vejo lá? Nem mais, nem menos que o xôr Francisco Louçã e a sua comitiva de bandeiras vermelhas, muito feliz e contente a distribuir panfletos e beijinhos às dezenas de pacóvios... perdão, pessoas que o rodeavam entusiasticamente.
Para essas pessoas, há algo de verdadeiramente empolgante e, diria mesmo, excitante no facto de poderem partilhar um pedaço de pão quente com chouriço e um copo de bagaço com alguém que vêem todos os dias na televisão (ainda que seja só a dizer disparates).
Uma das coisas que sempre me intrigou foi o facto de alguém conseguir ganhar umas eleições a dar beijinhos nas crianças e nas velhotas. É que, ainda por cima, não é pêra doce!
Os beijos nas crianças, ainda vai... Mais ranho, menos ranho... Mais cócó, menos cócó, ainda se vai aguentando. Agora, levar com valentes xôxos das velhotas de aldeia que têm bigodes mais farfalhudos que o Artur Jorge nos seus tempos aureos, já é demais! Ainda por cima as ditas senhoras não se limitam a fazer o gesto social de encostar a cara! Essas DOIDAS gostam de espetar com dois valentes beijos molhados nos CANTOS DA BOCA de qualquer desgraçado que lhes apareça à frente! É dose!
E depois como é que elas decidem em quem vão votar? É no que dá os beijos melhores? será que os políticos têm aulas de "beijo a velhas" antes das campanhas? Não entendo.
Mas, continuando a minha história, como tão cedo não tencionava voltar a uma festa daquelas, depressa me apercebi que aquela seria uma RARA oportunidade de olhar, olhos nos olhos, num dos meus mais queridos "cromos de estimação" e, quem sabe, dizer-lhe uma coisita ou outra.
Coloquei-me estrategicamente no seu caminho e pus-me com aquele ar que se faz quando se sabe que nos estão a tirar uma fotografia, mas queremos parecer naturais.
Pois bem, o Chiquinho (é assim que eu lhe chamo) olhou para mim, estendeu-me um panfleto e disse com um sorriso: "Quer ficar com um?"
Naquela altura, algumas hipóteses de resposta vieram-me à cabeça:
- "Não, obrigado. Já me deixei da droga!"
- "Olha que bom, acabei de calcar cócó e esse papelito vai-me dar mesmo jeito!"
- "Isso fuma-se ou snifa-se?"
ou ainda
- "Olá sr. Cavaco! Vou votar em si, sabia?"
No entanto, achei melhor limitar-me a acenar educadamente com a cabeça e receber o panfleto. Fiz questão, no entanto, de afastar a cara, não fosse ele lembrar-se de treinar os seus "dotes labiais" comigo. ARGHH!!!
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